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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

DESABAFO







O desejo de desabafar
Tão pulsante em meu peito irritado
Já começa a rasgar o silêncio
Não quero consolo
Não quero que me apontem soluções.

Senti um desejo dilacerante
De gritar minhas tristezas
Minhas incertezas,
Gritar que por hoje já basta!

Procurei muitos lugares
Onde eu pudesse chorar
Onde eu pudesse, enfim, me expandir
Sinto-me tão reprimido
Já não há espaço suficiente dentro de mim
Para mim mesmo.

Não achei tal lugar
Então, por introspecção,
Tentei desabafar sozinho e encontrei-me comigo
Nem eu mesmo me deixei reclamar.

Percebi que não importa
Quão revoltado eu me sinta
Eu simplesmente não tenho direito a isso!

Quantas vezes me senti frustrado
Por amores não correspondidos
Por sonhos não realizados
Por não ter tudo que quero,
Mas agora minha maior frustração
É me sentir frustrado
Por que sei que não há motivos!

Há coisas esplêndidas demais
Não há tempo para revoltar-se
Não há tempo para frustrações!
Então, de onde veio essa revolta?

Se há coisas que me inquietam
E me tiram a paz de espírito,
Ao invés de me revoltar
É melhor traçar um plano de transformação,
O tempo será mais bem gasto assim!

Agora captei o sentido;
Esta revolta tão cortante
Não era contra o mundo,
Era contra mim mesmo!
As modificações ocorrem de dentro para fora,
E não o inverso!

Finalmente entendo:
O mundo em que estou inserido
É o reflexo daquilo que sou
E será reflexo
Daquilo que eu me tornar!


 (Moisés Wesley)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Luzes de Natal


Estou me sentindo um tanto sozinha. De novo.
Longe de casa, voltei a me sentir como naquela noite. Aquela em que todos foram embora e eu fiquei. Todos, exceto eu.
Hoje está frio como naquela noite. Provavelmente está mais frio, porque daquela vez eu estava tão fora de mim, dominada pelo medo que não devo ter sentindo as coisas direito. Na pele, quero dizer. E nem na cabeça também. Enfim, frio como naquela noite e úmido como os cabelos da Laura... Não. Definitivamente não está como os cabelos dela. Aqueles caracóis estirados no asfalto... Lembro que ela sempre prendia o cabelo, pois não queria que nenhum cachinho saísse do lugar. Ai, se ela tivesse visto aqueles caracóis jogada no chão daquele jeito...
Como estava dizendo, além do frio e da umidade, tinham luzinhas piscantes espalhadas por todas as partes. Assim como hoje, só que as de hoje não estão acompanhadas de sirene, não é mesmo? As de hoje cantam alegres músicas de Natal como se todos tivessem a obrigação de serem felizes. Eu, como sei que não serei contagiada por toda essa alegria, não encaro as luzes. Nunca mais desde aquele dia. Desde o momento que eu vi os faróis daquele caminhão sendo refletidos nos olhos do Otávio. Aquele brilho intenso vindo no sentido contrário, piscando ainda mais forte, ofuscando, pela última vez, a visão do Otávio.
Lembro que aquela luz também tinha um som. Era agudo, alto, repetitivo. Nem sei dizer mais o que era, porque se misturou aos gritos da Carlinha. Sempre foi escandalosa, a menina. Tinha a voz aguda e foi só por causa do silêncio que apareceu depois que eu sabia o que tinha acabado de acontecer. Como seria a minha vida sem aquele som irritante da voz dela? Naquela época eu ainda não sabia. Não sabia que a voz dela era a voz mais linda do mundo, mais doce e mais querida que meus ouvidos já encontraram nessa vida.
Vida... e que piada, não é mesmo? Que piada engraçada me diria agora o Augusto se estivesse aqui? "Bah, que besteira. O que sobrou foi você e é isso que importa e daí", ele diria com aquele sotaque ridículo que herdara dos Pampas. Ai, e justo eu que nem gostava de chimarrão vim parar nessas bandas daqui, nessas serras frias desse país tropical.
Bonito por natureza pode até ser, mas abençoado por Deus é que me preocupa. Se ser a única sobrevivente foi um milagre, se isso foi mesmo obra de Deus, então eu não entendo que tipo de humor Ele tem. Há, se Laura me ouvisse falando uma coisas dessas... ah, se ela ouvisse... Se ela ouvisse, quem sabe ela não me daria um conselho sábio, não é? E era até por isso que eu gostava mais de falar com a Carlinha. Dramática toda, sem nada na cabeça, era bem capaz de me entender. Ora, que tem nesse copo, tchê? Mas espera, Otávio, espera que agora quem vai atrás da luz sou eu.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Fim do Mundo


Eu estava pensando comigo mesma, e se amanhã realmente fosse o fim do mundo? Será que eu estaria aproveitando meu último dia na Terra? Será que minha vida teria valido a pena? Será que eu morreria em paz comigo mesma por saber que eu tinha feito tudo o que queria e podia ter feito para valorizar meus dias de vida?
Acho que não. Na verdade, eu sei que não.
Sei que não fiz nem um terço de tudo o que eu gostaria de fazer na vida. Sabe aqueles coisas bobas que sempre queremos fazer e sempre deixamos para depois? Será que eu sentiria tanta falta delas assim?
Quero dizer, eu já fui atrás do final do arco-íris, literalmente, mas eu nunca entreguei aquela carta de despedida. Eu já coloquei barquinhos de papel na correnteza do asfalto, mas nunca disse eu te amo com sinceridade. Eu já andei na chuva só para me molhar, mas nunca perdoei aquela palavra amarga. Nunca beijei alguém na chuva, nunca vi neve, nunca cortei pintei o cabelo de rosa, nunca visitei um orfanato, nunca ajudei um idoso a atravessar a rua, nunca comi manga no pé, nunca fiz tantas coisas que gostaria de fazer que eu me pergunto, se o mundo acabasse amanhã, eu estaria pronta para morrer?
De que importaria as coisas que eu fiz? De que importaria as iniciais gravadas nas árvores? De que importaria os lugares que eu nunca vi? De que importaria todas as cartas que eu guardei?
E mais ainda, o quanto valeria meu último suspiro?
Talvez o mundo todo não acabe amanhã, mas o mundo de alguém em algum lugar do planeta, realmente acabará e, se fosse o seu, você estaria pronto para dizer Adeus?

sábado, 24 de novembro de 2012

Post-it

Tinha um poema colado em cima da mesa
Colado como se fosse um lembrete,
uma nota de escritório, algo mais ou menos importante
e certamente inesquecível.

Tinha um poema escrito em um post-it
em cima da mesa
e tinha alguém que não queria.
Não queria se esquecer.

Esquecer o quê, meu Deus?
O poema? O post-it? A mesa?
Eu não sei.
O que eu sei é que tinha.
Ah, tinha sim um poema.

Um poema num post-it,
colado na mesa do escritório,
sem data, sem destinatário e sem autor.
E, olha, tenho para mim, era um poema de amor.


Olá, esse é um poema que eu escrevi em um post-it e postei agora para nos lembrar de não esquecer de que esse blog é muito mais do que duas pessoas postando seus silêncios em palavras :P
A foto é minha também, só para vocês verem como realmente tinha um poema em um post-it. Até porque foi onde eu originalmente escrevi esse poema aqui postado - hahaha!
Estava com saudades daqui.
Até mais.
Alanna.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

BATALHA



Eu comigo mesmo contra mim!

Até quando esta batalha perdurará?

E quando tudo isto tiver seu fim

O que eu farei com tal paradoxo?

Terei finalmente eu me vencido

Ou perdido para mim?

E dos lados envolvidos em tal disputa

Qual estará certo?

Há um lado certo?


Todo ato gera um não ato

E cada escolha carrega em si uma renúncia

Quantas vezes mais eu terei que escolher

Entre ser e não ser

Partir e não partir

Insistir e desistir?


Permanecerei nesta batalha

Até que, talvez, já sem forças

Eu finalmente entenda

Que as respostas,

Pelo menos as mais valiosas,

Estão por aí,

Esperando para serem encontradas

Muito mais perto do que eu

Sequer posso supor!


(Moisés Wesley)



domingo, 26 de fevereiro de 2012

Um Sonho Qualquer

 Essa noite sonhei com você. Estávamos na praia, nossos amigos, você e eu. Eu estava andando na areia junto com todos. Comia patinha de caranguejo. Você ajudava as pessoas a entrarem na água. É que sonhos não são como realidade e era preciso descer as pedras para entrar no mar. Fui até as pedras e você me deu a mão perguntando se eu queria ajuda. Sorri e, ao invés de segura-lo pela mão, pulei em seus braços entre risadas infinitas. Você, bobo, me agarrou sorridente e disse que agora estava ocupado, mas que era para eu espera-lo na areia. Me levou então para longe dali e disse que já voltava. Eu continuava sorrindo daquele jeito de sempre vendo você ir embora. Ao longe você virou pra mim e gritou para te esperar. Eu nunca respondia nada, estava sempre em silêncio com um sorriso comprido no rosto. Depois de um tempo você voltou, andou em minha direção e quando estávamos nos encontrando, eu acordei.
 Todo o sonho virou poeira e foi carregado para o mar pelo vento. Eu fiquei ali esticada na cama morrendo de sono e desejando voltar a dormir. Sonhos são malucos e nada tem haver com a realidade. Só queria dormir de novo e migrar para um sonho qualquer. Qualquer... qualquer? Bom, é. É, mas enquanto eu dizia isso, percebi que o sorriso comprido perdeu alguns centímetros e em seu lugar apareceu um curtinho, tímido, ligeiro. Senti o rosto esquentando e posso supor que estava corando. Foi só por alguns segundos. Algo rápido como aquelas pequenas ondas que somem na areia. Meu coração saiu do ritmo um pouquinho e, antes que eu pudesse perceber, continuei sonhando de olhos abertos. Você voltava para mim e percebendo que eu não estava mais ali, ficou calado e cabisbaixo sentado exatamente onde tínhamos nos separado. Você olhava o horizonte pensando em alguma coisa que eu não poderia nunca adivinhar. E então eu cheguei perto de você, segurei seu rosto em minhas mãos e... E ficamos naquele ponto em que o céu encontra o mar e os dois vão juntos até o infinito. Com em um sonho de verdade. Um sonho desses que a gente tem quando a noite está virando dia. Quando o desejo vai tomando forma de realidade.


Alanna Correia

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

PERSONALIDADE


Era uma vez uma pessoa desprovida de personalidade.
Um dia ela estava tão encapada com as idéias de outras pessoas.
Estava tão cheia de opinião dos outros e tão vazia de si mesma
Que quis fazer com os outros o que fizeram a ela.
Dizia a eles como cada um deveria ser,
Tentando viver sua personalidade na personalidade de outros!

Quem cuida da vida do próximo certamente acha que a vida é sua,
Sua personalidade se perdeu
E assim busca impô-la no rosto de outros!


(Moisés Wesley)