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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Luzes de Natal


Estou me sentindo um tanto sozinha. De novo.
Longe de casa, voltei a me sentir como naquela noite. Aquela em que todos foram embora e eu fiquei. Todos, exceto eu.
Hoje está frio como naquela noite. Provavelmente está mais frio, porque daquela vez eu estava tão fora de mim, dominada pelo medo que não devo ter sentindo as coisas direito. Na pele, quero dizer. E nem na cabeça também. Enfim, frio como naquela noite e úmido como os cabelos da Laura... Não. Definitivamente não está como os cabelos dela. Aqueles caracóis estirados no asfalto... Lembro que ela sempre prendia o cabelo, pois não queria que nenhum cachinho saísse do lugar. Ai, se ela tivesse visto aqueles caracóis jogada no chão daquele jeito...
Como estava dizendo, além do frio e da umidade, tinham luzinhas piscantes espalhadas por todas as partes. Assim como hoje, só que as de hoje não estão acompanhadas de sirene, não é mesmo? As de hoje cantam alegres músicas de Natal como se todos tivessem a obrigação de serem felizes. Eu, como sei que não serei contagiada por toda essa alegria, não encaro as luzes. Nunca mais desde aquele dia. Desde o momento que eu vi os faróis daquele caminhão sendo refletidos nos olhos do Otávio. Aquele brilho intenso vindo no sentido contrário, piscando ainda mais forte, ofuscando, pela última vez, a visão do Otávio.
Lembro que aquela luz também tinha um som. Era agudo, alto, repetitivo. Nem sei dizer mais o que era, porque se misturou aos gritos da Carlinha. Sempre foi escandalosa, a menina. Tinha a voz aguda e foi só por causa do silêncio que apareceu depois que eu sabia o que tinha acabado de acontecer. Como seria a minha vida sem aquele som irritante da voz dela? Naquela época eu ainda não sabia. Não sabia que a voz dela era a voz mais linda do mundo, mais doce e mais querida que meus ouvidos já encontraram nessa vida.
Vida... e que piada, não é mesmo? Que piada engraçada me diria agora o Augusto se estivesse aqui? "Bah, que besteira. O que sobrou foi você e é isso que importa e daí", ele diria com aquele sotaque ridículo que herdara dos Pampas. Ai, e justo eu que nem gostava de chimarrão vim parar nessas bandas daqui, nessas serras frias desse país tropical.
Bonito por natureza pode até ser, mas abençoado por Deus é que me preocupa. Se ser a única sobrevivente foi um milagre, se isso foi mesmo obra de Deus, então eu não entendo que tipo de humor Ele tem. Há, se Laura me ouvisse falando uma coisas dessas... ah, se ela ouvisse... Se ela ouvisse, quem sabe ela não me daria um conselho sábio, não é? E era até por isso que eu gostava mais de falar com a Carlinha. Dramática toda, sem nada na cabeça, era bem capaz de me entender. Ora, que tem nesse copo, tchê? Mas espera, Otávio, espera que agora quem vai atrás da luz sou eu.

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